O Segundo Rei da BélgicaNa Bélgica de 1835, nascia um pequeno príncipe loiro de olhos azuis, que mais parecia um anjo. Essa criança chamava-se Leopold Louis Philippe Marie Victor, ou simplesmente Leopoldo II. Ele era um bebê muito frágil e estava sempre doente. Na sua infância, foi uma criança pouco feliz e muito tímida, pois seu pai não lhe dava muita atenção e sua mãe, a quem era muito ligado, morreu quando ele tinha apenas quinze anos, tornando-o uma pessoa muito reservada.
Como era o príncipe herdeiro, Leopoldo II seguiu a tradição belga de se alistar para o Exército, servindo os granadeiros como segundo-tenente quando ainda era uma criança, em 1846. O jovem príncipe passou por diversas provações enquanto esteve no exército, porém nunca deixou de ser uma pessoa retraída.
Num belo dia, Leopoldo II conheceu uma linda dama chamada Henrietta Marie, a filha do arquiduque da Áustria, pela qual apaixonou-se perdidamente. Os dois uniram-se numa fabulosa cerimônia que envolveu nobres belgas e austríacos, e logo tiveram quatro lindas crianças, três moças loiras de olhos claros e um menino traquinas que adorava cavalgar pelos campos verdes do reino.
O menino foi chamado de Leopoldo em homenagem ao pai, e era um garoto muito feliz e cheio de energia. Era o único filho legítimo do príncipe, porém o pequeno Leopoldo teve uma morte trágica aos nove anos de idade, num acidente na própria casa. A morte de seu filho abateu imensamente Leopoldo II, e foi um dos poucos momentos em que o príncipe se mostrou emocionalmente instável.
Pouco tempo depois desse infeliz episódio, o rei, Leopoldo I, também faleceu de uma terrível doença. Em seu leito de morte, transferiu o trono a seu filho legítimo, Leopoldo II, pedindo perdão por ter sido um pai tão ausente e dizendo-lhe que teria uma vida longa e seria tão bom para o reino quanto ele foi.
Arrasado pela sucessão de mortes na família e apoderado do trono, Leopoldo II se tornou uma pessoa diferente. Então rei, ele passou a exercer seu lado diplomático com maestria, fazendo acordos com diversos países. No dia em que recebeu a coroa, Leopoldo II disse:
— Meu maior desejo é deixar a Bélgica maior, mais forte e mais bonita!
E foi o que ele fez a partir daquele dia, construindo vias públicas e melhorando o país e as condições de vida da população.
Quando estava por volta de seus cinquenta anos, Leopoldo II chamou à corte seus mais fiéis súditos e disse-lhes, em particular:
— Estou pensando numa coisa que melhorará muito a imagem de nosso país, que não anda lá muito destacada, meus fiéis companheiros.
Os súditos entreolharam-se, pensativos, pois não era do feitio do rei contar seus planos aos outros, mesmo aos mais fiéis subordinados.
— Pois bem, sabeis que nesses tempos está acontecendo a tal da Corrida Imperialista, na qual os países todos estão buscando uns pedacinhos de terra na África, Ásia e até aquele continente lá no Sul, a Oceania?
Todos consentiram, afinal era impossível não notar a pressão feita pelas grandes potências para conseguir territórios e disseminar sua ideologia, cultura e poder.
— Bom, a Bélgica não é lá uma grande potência, mas não achais que deveríamos possuir algum território nosso? Digo, existe um território na África chamado Congo, e como não tem ninguém dominando-o ainda, eu pensei em adquiri-lo para mim.
— Para Vossa Majestade? - Perguntou um súdito, o mais baixo deles. - Estais dizendo que pretendeis ter um território em vosso nome, e não em nome da Bélgica?
— Sim. Afinal, semana passada houve a Conferência de Berlim e, veja se tu acreditas, não me foi concedido o território do Congo em nome da Bélgica! Repartiram aquele pedaço de terra entre França e Portugal, e só sobrou uma terrinha que talvez ainda valha a pena. Por esse motivo, estou pensando num acordo para que eu consiga aquela terra em meu nome, para o bem de nossa nação.
— Vossa Majestade, respeitamos vossa vontade e autoridade. Se assim quiserdes, assim será. Sabeis que nenhuma palavra sairá de nossas bocas sobre este assunto.
— Claro que não sairá. Agora, peço-vos que tragais este homem. - Leopoldo entrega aos subordinados um desenho com o nome "Henry Morton Stanley" escrito embaixo.
Algum tempo depois dessa reunião, o rei belga adquiriu o território restante do Congo para si, dando-lhe o nome de Estado Livre do Congo e tornando-se soberano deste.
Num certo dia, Leopoldo II recebeu a visita de Henry Stanley - um explorador patrocinado inicialmente pelos Estados Unidos e Inglaterra - e para a estranheza de seus súditos e da corte, pediu uma reunião particular com o homem.
— Stanley, meu amigo! Sabes que estive esperando por notícias tuas?
— Sim, eu não pude enviar nenhuma mensagem, pois os ingleses estão me espionando... Mas não te preocupes, ninguém desconfia de nada.
— Ótimo. Como estão as "explorações"?
— Vão muito bem. A quantidade de marfim e borracha que consegui já é suficiente para cobrir a construção de uma cidade inteira, do tamanho de Bruxelas, acreditas nisso?
— Hahahaha! E nós dois sabemos que não usarei esse dinheiro para construir cidades, não é?
— O engraçado é tu me dizeres isso sem o mínimo de culpa. Mas tudo bem, tu és o rei, não? E eu, enquanto estiver recebendo pelo meu trabalho, não sou nada além de um explorador a mando dos Estados Unidos da América.
— Hahahaha! Tu és uma comédia, Stanley. Pois bem, quero ver a tua exploração dando resultados. Ah, já andaste por Paris, certo?
— Eu conheço o mundo inteiro, já estive em lugares que tu nem imaginas, Leopoldo. Mas Paris, ah, Paris! Aquele lugar, e aquelas mulheres, não era disso que ias me falar?
— Exatamente, exatamente! Conheces Blanche?
— Blanche Zélia Joséphine Delacroix? E quem não conhece, meu amigo?
— Tens razão. Aquela mulher foi uma dádiva de Deus, não achas?
— Realmente. Sabes que da última vez que fui a Paris, ela esperava um filho? E estavam dizendo que era teu...
— Meu? Será verdade?
— Oras, se algum dia tu voltares a Paris, pergunta pessoalmente a ela. Agora, preciso ir. É uma longa viagem daqui até o Congo, mas passarei na Inglaterra antes para prestar umas contas.
— Está bem, está bem, Stanley! E eu irei a Paris quando puder, para tirar essa história a limpo. Continua com o bom trabalho, sim?
— Como o senhor mandar! Até a próxima!
Não demorou muito para que o rei criasse a Associação Internacional Africana, da qual se tornou presidente. Ao criar a Associação, Leopoldo II fez um discurso muito bonito:
— Para abrir à civilização a única parte do nosso mundo que não tínhamos ainda entrado, para furar a escuridão que paira sobre povos inteiros, é, ouso dizer, uma cruzada digna deste século de progresso. Para isso, prometo reprimir o tráfico de escravos, zelar pela preservação dos congoleses agora sujeitos ao meu governo e melhorar suas condições morais e materiais de existência. Incentivarei as missões e outras empresas com fins filantrópicos e científicos, sem qualquer restrição ou impedimento e, claro, garantirei o livre comércio.
No dia do discurso da Associação, Leopoldo II encontrou-se em particular com Henry Morton Stanley e outros dois homens que estavam ajudando-o a roubar do Estado Livre do Congo, esclarecendo aos amigos suas palavras no discurso que ocorrera mais cedo:
— Sabem, amigos, é uma questão de criar um novo Estado, tão grande quanto possível, e de executá-lo. É claro que neste projeto não há possibilidade de conceder o menor poder político para os negros. Isso seria absurdo.
Stanley, mais astuto e sarcástico, comentou:
— É verdade. Afinal, pela forma como a tua Força Pública os está escravizando e matando, não daria para imaginar o senhor amando os congoleses.
— A Força Pública, aquele exército inútil de oficiais europeus e formado por soldados negros? Eles não estão fazendo mais que a sua obrigação! Eu dei a ordem para que arrancassem a mão de cada vítima morta. Quem sabe assim, aqueles africanos não passam a trabalhar com mais afinco, conseguindo-me mais marfim?
— Não te preocupes, quaisquer que sejam os meios, estão dando certo. - disse um dos homens na conversa.
— Pois bem. Não temos nenhum espião, Stanley? - perguntou o rei, preocupado.
— Não, senhor. Não temos nenhum espião, porém o comerciante britânico Charles Henry Stokes foi preso por comércio ilegal no Congo, e como o senhor disse que o comércio era aberto, isso chamou um pouco a atenção do público, principalmente porque o homem era britânico...
— E apenas por isso estão julgando a minha pessoa?
— Mais ou menos. Outro dia, o secretário de Estado britânico para as colônias afirmou que os trabalhadores indígenas reclamaram de sofrer trabalho forçado, flagelações e mortes. Não tive nada a ver com isso, mas parece que os boatos estão se espalhando... Se eu fosse você, faria alguma coisa a respeito. Mas agora, preciso ir.
— Acho que tuas mensagens vieram um pouco tarde dessa vez, não é, Stanley?
— E como o senhor pode confiar num homem que trabalha para ti sendo patrocinado pelos americanos e britânicos? Se eu posso trair a um lado, posso trair ao outro também. Mas, acho que essa foi minha última mensagem ao senhor. Adeus, Leopoldo Victor!
Assim, Stanley e os outros dois homens deixaram Leopoldo em seu escritório, pensativo e nervoso, a imaginar uma forma de esclarecer os boatos, que eram verdadeiros, de suas atrocidades.
Dentro daquele castelo, porém, havia alguém que estava mais infeliz na história. Era Henrietta, a esposa de Leopoldo. Os dois já não se davam bem desde a morte do filho, e Henrietta sabia que seu marido possuía uma amante em Paris, para onde ele sempre viajava com a desculpa de fazer acordos.
Uma vez a rainha escreveu a uma amiga, e em sua carta dizia:
"Se Deus ouvir minhas preces, eu logo morrerei, caso nada mude."
Fosse pelo desgosto de uma vida tão infeliz, ou por alguma doença que a acometeu, Henrietta morreu em 1902, deixando apenas as duas filhas com o pai, que já não ligava para a família há muito tempo, pensando apenas nas riquezas e na dominação do pobre Estado Livre do Congo.
Alguns meses depois da morte da esposa, Leopoldo II cometeu uma de suas maiores loucuras: desfilou com sua amante parisiense Blanche Delacroix e os dois filhos do casal. Neste dia, muitos familiares e amigos estavam presentes, causando comentários nada agradáveis:
— Leopoldo, aquele rapaz tímido e reservado, agora está um louco, veja só!
— Eu sempre soube que esse moço faria alguma crueldade na vida! Pobre Henrietta, casou-se e morreu de desgosto!
— Se teu pai estivesse vivo, teria te deserdado! Ó, que rei terrível, Leopoldo II! O rei louco! Desfilando por aí com uma prostituta e com dois filhos bastardos, onde já se viu?
Após essa demonstração de loucura, todos os representantes de direitos morais de outros países se voltaram contra Leopoldo e tiraram-no do poder do Estado Livre do Congo. Assim, esse Estado foi chamado de Congo Belga e transferido à Bélgica como colônia oficial, terminando assim a terrível exploração e crueldade causadas por aquele rei, que nasceu como um anjo e morreu como um insano, em 17 de dezembro de 1909.
Não conheço a história de Leopoldo II para saber o que é real e o que é ficção no seu conto, mas gostei muito do que li! Fiquei imaginando aonde essa história toda chegaria, uma pena que Leopoldo se deixou levar pela ganancia e fez o que fez no Congo. E fico com pena da família também, deixada de lado como se não fosse nada. =/
ResponderExcluirOlha, eu lembro que na época pesquisei bastante, então pelo menos uns 90% dos fatos devem ser verdade hahahaha
ExcluirObrigada! É triste mesmo, principalmente porque isso tudo aconteceu de verdade e sabemos que não foi a única vez. =/
Embora Leopoldo tenha mudado completamente sua personalidade eu não o chamaria de insano. Hoje em dia, esse tipo de coisa não é nada além de algo comum... Alguém que se corrompe por poder e riquezas, ou então que não dá o devido valor no que possui... Claro, não estou dizendo que é correto, mas não é difícil de achar.
ResponderExcluirLegal o conto, achei muito interessante! Sinceramente, quando vi o tamanho minha alma preguiçosa começou a chorar t.t. Mas comecei a ler e sem perceber já estava perto do final, querendo mais (ahsuashuhsa). Queria poder estudar história com textos assim, seria legal hehe...
E PARA TUDO que eu preciso falar desse layout divo ♥ Cara, tá tudo lindo! Adorei as ilustrações da Jen no cabeçalho *^*
Pois é, na verdade essas últimas falas das pessoas peguei de biografias reais, então as pessoas realmente o achavam louco, mas o triste é que isso não aconteceu uma só vez na história e existem pessoas até piores. :/
ExcluirHUAHAUHA é um pouquinho longo, eu sei xD Essa foi a aula mais legal que tive de história!
Obrigada pelo elogio ao layout! *u*
Oooooi Helo! <3
ResponderExcluirGoste do conto, achei muito bem escrito, e não manjo nada de história pra saber onde está a ficção e onde entra a realidade. XD Acho que seria divertido estudar história desse jeito, com contos cheio de reviravoltas e tal - mais legal que os textos mornos da maioria dos livros didáticos, né?
Respondendo seus comments (não lembro se já respondi um deles, então vai tudo aqui mesmo): fico feliz que tenha te apresentado o blogskins ♥ Aparentemente o post fez sucesso com bastante gente, então espero que tenha servido às pessoas de alguma maneira. E assim como você, eu adoro trabalhar o topo do layout - mas tenho aprendido mais e mais coisas pro CCS e códigos bacanas, acho que deixa o layout bonito por inteiro ♥ E olha, acho que apesar da ausência, você tá mandando muito bem, hahaha!
Sobre o meme playlist, foi você que falou que não ouve Kpop, né? Acredite se quiser, tinham vários outros cantores e bandas no meu celular, e caiu mais os Kpops mesmo... Mas, bom, apesar de dramática, concordo contigo que a playlist foi coerente, HAHAHAHA XD
Beijinhos :*
Shana! <3
ExcluirOlha, que eu me lembre uns 90% do que está escrito são fatos reais, até algumas falas peguei de biografias e tal, agora certeza eu não tenho porque já faz tempo hahahaha. Com certeza, foi a minha melhor aula de história essa! Adoraria que os livros fossem assim!
Ah sim, você tinha comentado alguma coisa sobre o post do photoshop, mas o outro não! Sim, o CSS e o topo devem se complementar, assim o blog consegue ficar ainda mais bonito e harmonioso. Então devemos sempre nos atualizar porque é cada efeito interessante que surge, né? E obrigada! hahaha
Comigo aconteceu o mesmo naquele meme, coloquei milhares de bandas mas só caiu uns 10% delas (também, no meio de 500 músicas só seriam escolhidas 20, muita coisa ficaria de fora mesmo xD) - como eu disse, espero que o drama seja só na playlist e sua vida não esteja tão bad vibes assim! hahahahaha
Beijos! ;*
YOOOOO HELO \O/
ResponderExcluirNEM ME FALE EM ANIMES, LANÇOU ONTEM A TERCEIRA OVA DO ARCO PASSADO DE KAMISAMA <333333 Meu deus, eu vou surtar tanto com essa desgraça <3 E em agosto lançam a última <3............SEGUREM MEUS FORNINHOS!
Enfim, antes de tudo: QUE NOME DO CAPETA É ESSE DO TIOZÃO LEOPOLDO!? Gézuis, imagina essa criança assinando uma chamada!? Passava um dia inteiro :v
Bem, mas focando na história, ela me lembrou de uma frase do lelouch (protagonista de Code Geass) que diz o seguinte "Se quiser por a prova o caráter de um homem dê-lhe poder." O conto ficou muito bom! Como eu num me lembro de muita coisa sobre história (muito menos sobre a bélgica) eu não manjei onde tá a ficção e onde tá a realidade, mas isso me lembrou até mesmo um pouco de Hakuouki, pois são duas histórias aparentemente fictícias, mas que ensinam sobre a história de um país melhor do que muito livro por aí O/
Enfim, vou ficando por aqui O/
P.s: Tu sabe o que aconteceu com as filhas do primeiro casamento dele!? Fiquei com pena delas! Pô a mãe faleceu o pai virou um fdp e ainda a amante toma o lugar com os filhos dela '-'
Kiss
Hello Hina-chan! o/
ExcluirAAAH eu ainda não assisti nenhuma OVA de Kamisama! Mas preciso ver, afinal parecem rolar muitas situações surtantes <3
HAUshUHAUHSUH aparentemente antigamente os caras tinham os nomes tudo assim, já viu o nome completo do Dom Pedro I? -q
É verdade, essa frase resume bem a história. E obrigada! >3 A maioria das coisas é realidade sim; acho que seria muito legal se agente pudesse aprender hisória só com animes e textos assim hahahaha
Eu não sei o que acontece com as filhas do Leopoldo... *pesquisando* AH, beleza, bom, a história das filhas também é bem tensa! Uma das filhas casou-se com um príncipe lá, mas ele era meio doidinho e depois de alguns anos e dois filhos, eles se divorciaram - mas o cara gastou todo o dinheiro dela, então ela ficou individada e ainda foi presa porque ele deixou a dívida no nome dela! Coitada D; A outra filha casou também com um príncipe, mas ele também se revelou um fdp e os dois se divorciaram, mas ele passou uma DST pra ela. Aí depois de um tempo ela se casou de novo, mas esse segundo marido já era melhor. A terceira filha também se deu bem, ela casou com um príncipe descendente de Napoleão Bonaparte e teve uma vida feliz, mas eles só se casaram quando ela tinha mais de 30 anos. Enfim, a vida era difícil nessa época huahauhauhuaha (fonte: www)
Beijos!